Menu
Marca Azores

Asinus Atlanticus

Press

18 juil., 2018

Leite de burra inspira negócio com marca açoriana que resistiu ao falhanço

Leite de burra inspira negócio com marca açoriana que resistiu ao falhanço

Ainda mal tinha arrancado o projeto e um incêndio numa máquina do laboratório ia condenando o negócio ao falhanço. Agora querem levá-lo mais longe, tão longe como a alimentação dos bebés.

Clarissa é uma burra esperta. Talvez por isso seja a nova líder do grupo. Tornou-se especialista em abrir portões e, certa noite, resolveu levar a manada para um passeio. Por volta das três da manhã, quando a equipa da Asinus Atlanticus chegou ao local, já as burras estavam a chegar à estrada. O que vale é que são animais dóceis e não foi difícil levá-las de volta à exploração. Clarissa é uma das 55 burras que a empresa açoriana tem. O objetivo é a exploração de leite de burra para a cosmética e alimentação humana. O consumo não parece ser prejudicial, mas as alegações de benefícios para a saúde ainda carecem de mais estudos científicos.

A ideia do leite de burra surgiu depois de verem uma reportagem sobre o assunto. Susana de Couto Rico e Rute do Couto tinham algo em comum: “a vontade de ter um negócio diferente e que trouxesse valor acrescentado”, conta ao Observador o outro ponto comum entre ambas, Marcos do Couto, irmão e marido, respetivamente. Estudaram várias hipóteses — ovelhas e cabras — até que viram a tal reportagem e souberam que era esse o caminho a seguir.

A família Couto tinha comprado recentemente um burro e uma pequena carroça, mas ao animal que seria companhia para as crianças foram-se juntando outros à medida que o projeto crescia. As ideias começaram a tomar forma em 2011 e, dois anos depois, no final de 2013, nascia a Asinus Atlanticus em plena pastagem de Angra do Heroísmo.

A primeira dificuldade começou logo com a compra dos animais. Um dos requisitos era que fossem raças autóctones e em Portugal só existem duas — o burro de Miranda e o burro da Graciosa. O outro era que os animais fossem comprados na ilha. Mas os burros eram escassos na Terceira ou até nas outras ilhas açorianas. E os que existiam tinham muitos problemas de saúde e não se conseguiam reproduzir convenientemente.

Foi uma altura difícil”, conta Marcos do Couto. “Ser empreendedor em Portugal é difícil, mas nos Açores é muito mais.”

Sem burras capazes de gerar descendência, não havia hipótese de produzir leite. E esse era o foco do negócio. A equipa não teve outra hipótese senão ir comprar animais ao continente. Além disso, nas ilhas as notícias correm depressa e de cada vez que iam à procura de burras para comprar elas estavam sempre mais caras. “No início, as duas primeiras, custaram 200 ou 250 euros, passado uns tempos já estavam a 500 euros, mas ao fim de três meses já custavam 700 euros”, conta Marcos do Couto. No continente foi possível comprar animais de maior porte — os de raça mirandesa ou sem raça — por um preço mais em conta (400 a 600 euros).

Mas no meio dos azares também existem histórias felizes. “Pequenos sinais que mostram que temos de seguir com o projeto”, conta o professor de Educação Física. Havia uma burra à venda por 500 euros, mas já não havia margem para esta compra — o investimento inicial no projeto contava apenas com as poupanças dos quatro sócios. Foi o Totoloto salvou a situação. A única vez que Marcos do Couto ganhou um prémio deste tipo. E logo 500 euros. A burra passou a ser uma Asinus Atlanticus.

Fonte: Observador - Por Vera Novais

 

Retraite